Somos seres gregários, ou seja, nascemos para viver em grupos. Por isso, a convivência é o grande desafio. Seja na família, no trabalho, ou na sociedade, lidar com o diferente, nos exige e nos coloca frente a nós mesmos. Pois aquilo que nos mobiliza (incomoda) com relação ao comportamento do outro, está falando de aspectos de nós mesmos, que não queremos nos relacionar. Por isso, a importância do autoconhecimento. Desta forma, projetamos menos nossos conflitos internos. Reconhecendo quem realmente somos, alcançando assim o desenvolvimento psicológico.
Se relacionar nunca foi algo fácil. E na família, tal dificuldade é potencializada. Pois a intimidade, muitas vezes, faz com que certos limites, naturais e necessários, deixem de existir. Casamentos estruturados em sentimentos de posse, necessidades de controle, pais que não respeitam filhos, filhos que não respeitam pais, irmãos intolerantes e indiferentes... Famílias onde a carência vestida de afeto: oprime, sufoca, e faz sofrer.
Diferentemente de outros contextos, onde nos escondemos atrás de máscaras sociais muito bem construídas, na família mostramos quem realmente somos. A convivência diária faz com que nossas sombras apareçam constantemente e frequentemente. Conscientes ou inconscientes, elas estão sempre presentes. É fundamental, a busca pela conscientização desses conteúdos que emergem e nos tomam. Quanto mais inconsciente nossas sombras estiverem, mais potentes serão e menos domínio teremos sobre elas.
É, principalmente, na família que descontamos nossos conflitos, nossas frustrações e inquietações. Justamente, naqueles que mais amamos, despejamos o fardo das nossas aflições e problemas vivenciados.
Portanto, se reconhecer é o caminho a ser percorrido. Desconstruir a imagem idealizada de si, e se conectar com o ser real. Exigindo assim menos do outro e mais de si mesmo. Quanto mais consciência tivermos, menos projeção existirá e mais saudáveis e profundas serão nossas relações. Por isso, a convivência é uma arte.
A arte de viver é simplesmente a arte de conviver. Mário Quintana
Psicólogo Juliano G. Cechinel
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