Se existe um símbolo da atual distopia que vivemos, este símbolo é a máscara cirúrgica.
Aparecendo em larga escala primeiramente na Ásia, onde as mesmas já eram comuns, depois na Europa, hoje estão em toda parte. Imagens de pessoas com máscaras ilustram quase todos os artigos sobre o novo coronavírus, se espalham nas mídias sociais e nas ruas. Online ou offline, é o símbolo da atualidade.
Este modelo de máscara disseminado hoje, surge pela primeira vez no final do século XIX, sendo adotado por médicos como medida protetora em cirurgias para impedir que bactérias transportadas pelo ar entrem em uma ferida aberta.
Em 1910, as autoridades chinesas aderiram ao uso da máscara para controlar a propagação da peste pneumônica. Oito anos depois, se tornaram um fenômeno global, usadas como proteção contra a gripe espanhola, que apesar do nome, não assolou apenas a Espanha e sim todo o mundo.
Embora o uso das máscaras tenha diminuído após a Primeira Guerra Mundial, a popularidade na China continuou. Principalmente depois da epidemia de SARS, a partir de 2002 houve um ressurgimento da máscara em quase toda a Ásia. Além de protetiva, simbolizava o cuidado com a comunidade e a consciência cívica, relatou Christos Lynteris, médico antropólogo ao The New York Times.
Ainda devido à alta taxa de poluição no ar, estes lugares usavam máscaras nas ruas antes mesmo da pandemia por covid-19. Em 2014, Yin Peng apresentou máscaras na passarela durante a China Fashion Week, e em 2015 a designer chinesa Masha Ma desfilou em Paris máscaras cravejadas de Swarovski. Além da boy band sul-coreana BTS conhecida pelo k-pop que também já vendia máscaras da sua marca.
Antes mesmo do coronavírus, a abordagem de temas apocalípticos na moda já vinham sendo abordados com frequência (já falei sobre aqui).
Marine Serre (já viu looks justinhos com estampas de meia lua instagram a fora? É dela!), designer new generation que trabalha com a moda de forma responsável, tanto na produção e mão de obra quanto relacionado aos temas de coleções, sempre trazendo diálogos ambientais e políticas para a moda. Começou a trabalhar com máscaras antipoluição em 2019, e suas máscara para o verão 2020 fizeram grande sucesso antes mesmo do surto de coronavírus. A Off-White também já apresentou máscaras, mais como street style do que proteção, pela marca se apropriar da moda de rua em sua identidade, provavelmente é uma inspiração advinda dos rappers como Future, Ayo & Teo e Young Thug que já vestiam suas máscaras como acessório de assinatura.
Gucci criou uma máscara com cristais para a gigante Billie Eilish usar no Grammy, no caso, apenas estético.
Os especialistas de saúde sugerem que as máscaras podem precisar ser usadas por pelo menos um ano, até que uma vacina seja desenvolvida. Analisando o cenário histórico-atual, podemos prever o resultado: a máscara como parte da vestimenta na vida cotidiana. Serão as máscaras o novo statement? Como o calçado que você calça quase que religiosamente antes de sair de casa, e muitas vezes ainda o faz como o ponto principal do seu look.
Não à toa, a marca brasileira Osklen já lançou máscara a preço de luxo (o que refletiu negativamente nas mídias devido ao valor abusivo). O fato é que, seja feita pela costureira de bairro ou por grife, continuamos vivendo em hierarquia social e a máscara se torna comum assim como qualquer outro item de moda que se encontra entre diversos valores e para todas as classes. Um item que é procurando inicialmente por necessidade e logo transformado em objeto de desejo. É a roda da moda.
Visto que não são todos que tem o privilégio de ficar em casa, principalmente em Santa Catarina que as atividades voltaram quase ao normal, existem pessoas na rua, e a máscara sendo lisa, estampada ou de lantejoula, é uma necessidade. A moda como uma extensão do corpo que expressa nossa identidade e até mesmo sentimento (já falei sobre aqui) faz da máscara o acessório obrigatório que esconde, mas que também comunica. Faça o uso com consciência e se a máscara se torna menos chata se usada também por estética, por que não? Combine no look do dia e vai. Mas vai só se necessário, afinal, se puder fique em casa.