A COP 30 deveria servir como marco para repensar radicalmente a priorização pública da preservação ambiental. Contudo, o que se observa é uma repetição de gestos simbólicos, muitas vezes sem correspondência em planos com prazos, recursos e mecanismos de proteção efetiva. Enquanto líderes posam para fotos ao lado de comunidades tradicionais, a prática revela uma realidade mais sombria: a preservação ambiental permanece subordinada a cálculos políticos de curto prazo, a interesses econômicos que minam a integridade dos ecossistemas e a uma burocracia que transforma promessas em papéis carimbados, sem impacto real no cotidiano das florestas, dos rios e da qualidade de vida das populações.
Um dos pilares mais negligenciados é a proteção hídrica. A implantação de sistemas de esgoto efetivos, capazes de tratar e devolver água limpa à comunidade, é essencial para reduzir a poluição dos rios, evitar a eutrofização, proteger a fauna aquática e assegurar água potável para milhões. Investimentos robustos em saneamento não são apenas despesas; são investimentos diretos na saúde pública, na produtividade econômica e na resiliência climática. Sem essa infraestrutura, as cobranças por redução de emissões soam vazias, pois a poluição de águas alimenta um ciclo de degradação que anula ganhos ambientais em outras frentes.
Outra frente crítica é a fiscalização para a não poluição de rios. O descaso com a vigilância ambiental permite que atividades industriais, agrícolas e urbanas descarreguem resíduos sem controle, contornando normas e atropelando comunidades ribeirinhas. A COP 30 precisa exigir não apenas compromissos globais, mas mecanismos de monitoramento, sanções efetivas para infratores e recursos para órgãos ambientalistas que enfrentam, muitas vezes, pressões políticas. A presença de fiscais não pode se reduzir a uma performance política; deve-se traduzir em ações verificáveis, com dados abertos e responsabilização clara. A água, bem comum, não pode continuar a ser tratada como recurso para negociação pontual entre governos, mas como direito básico e protegido por lei.
Finais
O desmatamento é outra trincheira de resistência à preservação. Mesmo com acordos e promessas, a taxa de devastação continua a ameaçar habitats, tempos de vida de comunidades indígenas e o equilíbrio ambiental global. A urgência é reduzir o desmatamento com políticas públicas agressivas: demarcação de terras, incentivos para manejo sustentável, fiscalização fortalecida, sanções proporcionais e apoio econômico para alternativas reais à exploração predatória. O investimento em restauração de ecossistemas deve acompanhar a contenção do desmatamento, sob pena de perdermos anos de avanços em mitigação e adaptação. Tratam-se, estes, de temas que carecem meramente de vontade política para serem colocados em prática, mas que, infelizmente, se arrastam sem uma ação efetiva dos poderes constituídos.
Desde a Rio 92, a promessa de “nunca mais” ficaríamos sem ações consistentes foi substituída por fotos, discursos e relatórios. A prática, porém, permanece frágil. Governos mostram-se mais dispostos a registrar gestos de solidariedade ambiental apenas para ganhar legitimidade internacional do que investir seriamente em estruturas que garantam a proteção sustentável do meio ambiente. A COP 30 precisa romper esse ciclo de simbolismo e entregar soluções tangíveis: planos financiados, metas verificáveis, auditorias independentes, participação popular real e serviços públicos básicos que melhorem a qualidade de vida e reduzam impactos ambientais. Caso contrário, o ceticismo só se aprofundará, e o meio ambiente continuará a ser uma vitrine de fotografia, não um patrimônio comum protegido de forma eficaz.